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Inclusão socioprodutiva e inovação nortearão atuação do Cidade Empreendedora em Benjamin Constant

Programa foi lançado oficialmente no município e ações já iniciaram
Por Thayssa Castro
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Tecendo pontes entre a inclusão socioprodutiva e a inovação, alinhadas à cultura ancestral, o Cidade Empreendedora iniciou sua atuação no município de Benjamin Constant (a 1.116 km de distância em linha reta de Manaus). O programa é uma parceria entre a Prefeitura do Município e o Sebrae Amazonas. O lançamento oficial ocorreu na última sexta-feira (17), no Auditório Benjamin, localizado na Rua Frei Ludovico, nº 750, no bairro Centro.

Com previsão de atuação de 16 meses e 122 ações, o programa espera impactar mais de 2.400 pessoas no município, que possui forte potencial empreendedor. De acordo com o Observatório Setorial Territorial do Sebrae, em Benjamin Constant, entre as novas empresas ativas em 2025, 12,1% correspondem a Empresas de Pequeno Porte (EPP), 18,5% a Microempresas (ME), 66,9% a Microempreendedores Individuais (MEI) e 2,42% a outras categorias de negócio.

Com população de 37.648 pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, Censo 2022), o município registra um PIB per capita (2021) de R$ 8.664,03. Pensando em impulsionar o desenvolvimento socioeconômico local, o programa Cidade Empreendedora já iniciou suas primeiras ações em Benjamin Constant.

Fortalecimento do artesanato e moda indígena 

Uma das frentes prioritárias é o fortalecimento do setor de artesanato, atividade que representa cerca de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, movimentando R$ 100 bilhões por ano no Brasil. No Amazonas, o setor é também um dos principais vetores de geração de renda para comunidades tradicionais.

O artesanato é fonte de sustento para diversas famílias em Benjamin Constant e uma ferramenta essencial para o fortalecimento dos saberes tradicionais e a preservação da cultura indígena. Nesse contexto, o município realizou, como parte das ações do programa Cidade Empreendedora, a 3ª Feira das Artes Indígenas, que reuniu mais de 120 artesãos das etnias Ticuna, Mayoruna, Kokama, Matis e Marubo, no dia 16 de outubro.

O evento atraiu lojistas do Rio de Janeiro, Brasília, São Paulo, Minas Gerais e Manaus, interessados em adquirir peças diretamente dos produtores locais, fortalecendo a economia criativa e o comércio justo na região.

Entre os destaques da feira estava Rosa Chota Davilla, presidente da Associação das Mulheres Artesãs Ticuna da Aldeia Bom Caminho. Seu trabalho, reconhecido nacionalmente, levou-a a ser uma das Top 100 Artesãs do Brasil, prêmio que celebra talentos que unem tradição e inovação. Rosa é conhecida por materializar, em cada peça, o conhecimento ancestral e as tradições do povo Ticuna.

“Eu agradeço muito ao Sebrae, que sempre nos apoia, orientando e ajudando. Estamos no processo de reconhecimento da Indicação Geográfica do Artesanato Ticuna de Benjamin Constant que vai reconhecer oficialmente o artesanato Ticuna. Isso é muito importante, porque valoriza ainda mais o nosso trabalho e mostra a nossa identidade indígena por meio do artesanato”, explica.

Artesã Rosa Chota Davilla é uma das Top 100 Artesãs do Brasil. Foto: Hudson Barros/SEBRAE-AM

Com o lançamento do programa Cidade Empreendedora, a artesã acredita que novas portas se abrirão para fortalecer a economia local e ampliar o alcance das peças produzidas pelas mulheres da comunidade.

“Eu espero que o programa traga mais apoio, capacitações e oportunidades. Que ajude a melhorar nosso atendimento e abrir novos mercados. A gente precisa desse apoio do Sebrae e da prefeitura para continuar crescendo. Acredito que o Cidade Empreendedora vai ser um passo importante para isso”, afirma.

Outro nome que tem se destacado no cenário criativo é o de Joeliton Vargas Moraes, da etnia Kokama, criador da startup Ikaben, voltada à moda indígena autoral. Sua jornada começou ainda na universidade, durante a pandemia, quando decidiu transformar um projeto acadêmico em um negócio de impacto.

“Durante a pandemia, comecei um projeto na faculdade para criar algo que tivesse impacto social e ambiental. Como indígena, percebi quantas injustiças acontecem com relação aos grafismos e quis transformar isso em algo positivo. Hoje trabalho com moda indígena, usando estamparia e arte autoral para contar a história e o significado de cada grafismo, valorizando nossa cultura e nossos artistas”, conta.

Joeliton Vargas Moraes é criador da startup Ikaben, de moda indígena. Foto: Hudson Barros/SEBRAE-AM

Com a chegada do programa Cidade Empreendedora, Joeliton acredita que mais jovens poderão seguir esse caminho de inovação e pertencimento.

“O Sebrae sempre foi um parceiro importante, e agora, com o Cidade Empreendedora, acredito que mais pessoas vão ter a chance de estruturar seus negócios e colocar suas ideias no mercado. Esse apoio é essencial para quem quer transformar a própria realidade por meio do empreendedorismo”, destaca.

Empreendedorismo local  

Outra trajetória inspiradora é a de Ana Maria Franco, empreendedora do setor de acessórios e joias, que possui um ponto comercial no centro de Benjamin Constant. No início, ela atendia os clientes em casa, mas percebeu a necessidade de profissionalizar o negócio. Buscando apoio, procurou a Sala do Empreendedor do município e, em menos de um ano, conseguiu expandir a empresa, mudar de local e aprimorar o atendimento, a gestão e o fluxo de vendas.

“Comecei atendendo em casa e vi a necessidade de ter um ponto fixo. Busquei apoio e consegui ajuda na Sala do Empreendedor, onde pude verificar a situação cadastral da empresa, o CNPJ e resolver outras burocracias. Além disso, participei de capacitações e formações que ajudaram muito a melhorar meu negócio”, conta.

Do setor de acessórios e joias, Ana Maria Franco. Foto: Hudson Barros/SEBRAE-AM

Com o Cidade Empreendedora em andamento no município, Ana acredita que o programa será essencial para fortalecer o ambiente de negócios e incentivar quem está começando.

“A minha expectativa com o Cidade Empreendedora é que ele traga ainda mais apoio, formações e palestras, ajudando os empreendedores locais a crescerem. Esse tipo de incentivo faz toda a diferença para quem quer se desenvolver e continuar no mercado”, destaca.
Cidade Empreendedora em Benjamin Constant

O Cidade Empreendedora atuará de forma integrada em sete eixos estratégicos de desenvolvimento econômico local: gestão e políticas públicas; lideranças locais e governança; compras públicas e acesso a crédito; empreendedorismo na escola; inclusão socioprodutiva; identidade, vocações e mercado; e resiliência climática e sustentabilidade. A iniciativa é alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, fortalecendo a agenda de crescimento econômico com inclusão social e respeito à cultura local.

Para o prefeito Semeide Bermeguy, o programa representa uma oportunidade concreta de transformação no município, especialmente por unir capacitação, inovação e valorização das potencialidades regionais.

“A parceria com o Sebrae é fundamental para impulsionar o desenvolvimento econômico e social do nosso município. O Cidade Empreendedora vem para fortalecer o trabalho dos nossos pequenos negócios, gerar oportunidades e mostrar que Benjamin Constant tem muito potencial para crescer de forma sustentável”, destacou o prefeito.

Com foco no fortalecimento das cadeias produtivas locais, o programa prevê ações práticas e continuadas para empreendedores, produtores rurais, artesãos, gestores e estudantes. De acordo com a chefe do Escritório Regional do Sebrae em Tabatinga, Osiana Nogueira, o programa marca um novo momento para a economia do Alto Solimões.

“O Cidade Empreendedora é um programa de desenvolvimento socioeconômico que busca integrar poder público, comunidade e setor produtivo em torno de um mesmo objetivo: transformar realidades por meio do empreendedorismo. Em Benjamin Constant, estamos trabalhando com ações de inclusão socioprodutiva, fortalecimento das lideranças locais e incentivo à inovação, respeitando sempre a identidade cultural do município”, ressalta.

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