A produção dos agroextrativistas da Floresta Nacional (Flona) de Tefé, no Amazonas, agora tem identidade própria formalizada. É a Marca Coletiva Flona Tefé, selo que passa a constar nos produtos oriundos da região, como a farinha e a castanha. O lançamento oficial ocorreu na manhã desta quinta-feira, 30/3, no Laboratório de Inovação do Sebrae, Sebraelab, com a presença de produtores rurais e órgãos envolvidos na ação.
Antes, a produção de farinha na Flona envolvia desmatamento, estrutura limitada, ausência de boas práticas e precificação justa. Ao longo da última década, a Associação de Produtores Agroextrativistas da Flona de Tefé e Entorno (APAFE) já buscava melhorias nos processos quando começou a concorrer ao registro de marca coletiva, por incentivo do Sebrae.
Nesse projeto, promovido pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), Brasil, Bolívia, Filipinas e Tunísia participaram na busca por incentivar pequenas e médias empresas em concorrer pela consultoria e benefícios oferecidos pela organização internacional. A Flona de Tefé foi a escolhida no Brasil para receber o trabalho de preparação e capacitação da cadeia.
Hoje, esses produtores estão capacitados com oficinas de boas práticas de fabricação de farinha, gestão de propriedades rurais, associativismo e cooperativismo, identidade visual de produtos, desenvolvimento de embalagens, entre outras promovidas pelo Sebrae Amazonas e entidades parceiras. A marca coletiva representa diretamente 110 comunidades e cerca de 4 mil agricultores e moradores da floresta.
“Na época dos meus pais, nós colocávamos a farinha num paneiro. Hoje, é numa garrafa com embalagem”, disse Manuel Rodrigues Neto, presidente da Associação de Produtores Agroextrativistas da Flona de Tefé e Entorno (APAFE).
“Teve um avanço muito grande na casa de farinha, na preparação. Em relação a anos atrás, está tudo diferente, mais higiênico, padronizado. Nossos avós produziam de um jeito. Com o Sebrae dando apoio, oficina, fazendo treinamento, hoje produzimos diferente”, explicou Neto.
Além da expertise aos produtores, o registro da marca coletiva garante sua proteção, assegura exclusividade de uso no ramo da atividade e indica para o mercado o pertencimento a determinada entidade representativa. Ela também contribui para agregar valor a produtos e serviços, além de atrair e fidelizar consumidores.
Esse trabalho junto a OMPI contou com a atuação do Itamaraty, Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), Ministério da Agricultura, Sebrae, APAFE, Instituto Mamirauá e Fórum Origens Amazonas. No evento de lançamento da marca, esteve presente o membro do Comitê de Desenvolvimento e Propriedade Intelectual da OMPI, George Ghandour.
“O projeto foi desenvolvido num momento desafiador, durante a pandemia de Covid-19, mas, apesar da situação, o projeto seguiu adiante. É o segundo lançamento. Já tivemos na Filipinas, e é um importante modelo, já que o acompanhamento continua”, declarou.
A diretora superintendente do Sebrae Amazonas, Ananda Carvalho, destacou a oportunidade da instituição em realizar seu maior compromisso. “(O projeto) nos ajuda a fazer a nossa missão de fomentar o empreendedorismo e de levá-lo para o interior. A marca coletiva hoje dá uma identidade para aquela comunidade, aumentando a renda, fazendo os produtos, a exemplo da farinha e castanha, nós temos a andiroba, a copaíba, tem o mel, que eles também produzem lá”, destacou.
De acordo com a chefe de escritório regional no Centro-oeste e Norte do INPI, Milene Dantas, foram dois anos de trabalho intenso, in loco, visando a avaliação do pedido da marca coletiva. “Agora eles têm a possibilidade de acessar mercados, identificando o seu produto de uma forma distintiva, de uma forma diferenciada e com uma grande possibilidade de agregação de valor, de retorno econômico pra essa comunidade”.
Após o evento na manhã desta quinta, os participantes se dirigiram ao restaurante Tambaqui de Banda, no Largo São Sebastião, em Manaus, que passa a comercializar a partir de então a farinha de Uarini produzida na Flona de Tefé.