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Farta de leite e singular nos queijos, Autazes define controle de origem do produto

Município e territórios circunvizinhos aguardam aval do INPI para receber o selo de Indicação Geográfica dos queijos
Por Bruno Tadeu
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Da ordenha bovina e bubalina até a produção nas fábricas de terra firme ou flutuantes, os queijos de Autazes e regiões circunvizinhas são únicos. E agora esse reconhecimento é oficial, com a assinatura do laudo de delimitação da área da Indicação Geográfica (IG). Este selo agregará valor à maior cadeia produtiva pecuarista, leiteira e queijeira do Amazonas, que está avançada na adequação sanitária e tecnológica.

São mais de 76 mil cabeças gado, onde a maioria é aproveitada para atividade leiteira, numa produção média diária de aproximadamente 50 mil litros, o dobro da média nacional (25.508 litros em 2021), de acordo com o portal sobre lácteos MilkPoint. As informações são da Secretaria Municipal de Produção Rural de Autazes e da Associação dos Produtores de Queijo de Autazes (Aproqueijo), respectivamente. Na Terra do Leite, cerca de 1,5 mil pecuaristas atuam nesse segmento.

É daí que nasce a abundante matéria-prima dos queijos, onde o coalho é o mais comum, mas também se encontra o muçarela, frescal, ricota, queijo manteiga, além de outras produções derivadas, como doces, requeijão, iogurte, manteiga e coalhada. Um trabalho de origem quase centenária e que conquistou o paladar de amazonenses por todo o estado.

Atualmente, oito fábricas de queijo de diferentes portes estão legalizadas em Autazes e 20 buscam a regularização. Entre elas estão queijarias flutuantes, em estruturas que facilitam o acompanhamento do gado no período de cheia, levando em conta o perfil hidrográfico da região. Na várzea ou na terra firme, esse território contempla Autazes e Careiro da Várzea, além de parte de Itacoatiara, Nova Olinda do Norte, Careiro Castanho e Borba.

Transformação

E desde 2021 os agentes desse segmento passaram por um intenso processo de capacitação, do trato do rebanho, com a adoção de boas práticas agropecuárias – como a exigência de vacinação do gado -, até a manipulação do leite, a partir do uso de equipamentos específicos para operação dentro da conformidade, além da condição da água, manuseio e fluxo de pessoas nos locais de produção.

Um dos que acompanharam de perto esse desenvolvimento e vem adaptando o modo de operação na cadeia do leite é o produtor Neto Paiva, 42. O queijo é um trabalho familiar iniciado com os pais, na década de 1960, e agora ele aposta no selo de Indicação Geográfica visando um salto no comércio. “Já temos o nome, mas queremos colocar nosso queijo coalho para o Brasil todo, que eu creio ser diferente de todo o queijo coalho do país. Isso vai fortalecer muito”, vislumbrou.

Produtores de queijo no evento da assinatura do laudo de delimitação da área da Indicação Geográfica (IG) de Autazes

Na manhã desta sexta-feira, 29/7, Neto e seus colegas produtores estiveram reunidos no estande do Sebrae durante a programação da 23ª Feira Agropecuária de Autazes. Eles testemunharam a assinatura do laudo de delimitação da área onde o queijo característico da região é produzido. Resta agora o trâmite para a comprovação junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) de que o produto atende as exigências para a conquista do selo.

Etapa decisiva

A última grande etapa na busca pela sétima IG do Amazonas foi celebrada entre entidades parceiras que capitanearam o projeto e os trabalhadores do setor queijeiro, com a definição da origem controlada dos queijos de Autazes e a entrega simbólica de um cheque de R$ 50 mil pelo prefeito Andreson Cavalcante.

Antes, o projeto passou por elaboração do caderno de especificações técnicas, comprovação da espécie, criação do manual de identidade visual, criação de associação representativa e dossiê histórico-cultural da área. O treinamento para as novas práticas foi oferecido aos produtores por meio do Sebraetec, programa do Sebrae subsidiado em até 70% do custo que oferece acesso a serviços tecnológicos e de inovação, visando à melhoria de processos e produtos.

Em 2021, o projeto recebeu emenda parlamentar de R$ 150 mil do deputado estadual Serafim Corrêa. Já para este ano, o Sebrae Amazonas concedeu aporte de R$ 100 mil ao trabalho na busca pela IG, totalizando um investimento de R$ 300 mil.

Estiveram presentes no evento de sexta-feira ainda o Sebrae Amazonas, representado pelo presidente do Conselho Deliberativo Estadual, Muni Lourenço, e diretoria; a Unidade Gestora de Projetos Especiais e Secretaria de Estado da Produção Rural (Sepror), representando o Governo; Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), vereadores de Autazes e a Aproqueijo.

Prefeito Andreson Cavalcante e presidente do CDE Sebrae, Muni Lourenço, exibem documento com assinatura da área

“Essa Indicação Geográfica é sinônimo de melhoria de renda para milhares de famílias, agregação de valor e consolidação dessa verdadeira grife que existe hoje e, com certeza, vai se consolidar ainda mais, do queijo coalho de Autazes em Manaus e em outros mercados consumidores”, projetou Muni Lourenço.

Para Diego Martins, presidente da Aproqueijo, o selo será um divisor de águas no município e região. “O queijo Autazes tem fama. Esse selo vem para carimbar a fama que o queijo de Autazes tem, assim como já acontece com o Vinho do Porto, a Tequila do México, alguns queijos da França, da Suíça… Depois de muito trabalho, de várias gerações na produção de leite e queijo, vamos ganhar esse selo”.

Indicações Geográficas

No Brasil, o selo de Indicação Geográfica conferido pelo INPI é concedido a uma região que ficou conhecida ou apresentou vínculos relativos à qualidade e características de um produto ou serviço, conforme estabelecido pela Portaria INPI/PR Nº 4, de 12 de janeiro de 2022.

Atualmente, o Amazonas possui seis IGs: Farinha de Uarini, Peixes Ornamentais do Rio Negro, Abacaxi de Novo Remanso, Pirarucu de Mamirauá, Guaraná de Maués e Andirá-Marau (guaraná dos indígenas), cuja área contempla parte de municípios do leste amazonense e do Pará. Até dezembro de 2022, outras três indicações devem ser estabelecidas junto ao INPI: Queijos de Autazes, Mel de Abelhas Nativas de Boa Vista do Ramos e o Açaí de Codajás.

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