Em regiões onde o acesso a oportunidades ainda é restrito, o empreendedorismo se apresenta como uma ferramenta de transformação social e econômica. É com esse objetivo que o programa Cidade Empreendedora, desenvolvido pela Prefeitura e o Sebrae Amazonas, chegou a Amaturá. O lançamento oficial aconteceu na última quinta-feira (7), durante a abertura da Copa da Floresta, evento que reúne a população local para o fomento do esporte e lazer.
O objetivo do programa é claro: impulsionar pequenos negócios, criar oportunidades de capacitação e fomentar a inclusão produtiva, beneficiando tanto a área urbana quanto comunidades rurais e ribeirinhas. Para isso, o Sebrae-AM e as secretarias municipais realizaram um mapeamento minucioso das demandas do território, transformando-as em um plano de trabalho que será executado ao longo de 16 meses. Ao todo, serão 30 ações e a expectativa de impactar diretamente mais de 700 pessoas.
De acordo com a plataforma DataSebrae (2023), o município conta com cerca de 1,1 mil pequenos negócios ativos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE – 2022), a população é de 10.819 habitantes, com renda per capita anual de R$ 9.960,76 (2021). Esses números revelam não apenas o potencial de crescimento, mas também a necessidade de iniciativas que fortaleçam a economia local.
Para a prefeita Nazaré Rocha, a parceria com o Sebrae-AM representa um passo importante para o futuro do município.
“O programa vai nos ajudar a desenvolver cursos e ações para que as pessoas tenham alternativas concretas de abrir seus próprios negócios. É uma oportunidade de gerar emprego, renda e desenvolvimento para toda a cidade, beneficiando desde a sede até comunidades mais distantes”, destacou.
Oportunidade de recomeço
Entre as primeiras beneficiadas do programa está Inocência Gomes Mariano, dona de casa que há alguns anos está fora do mercado de trabalho. Ela se inscreveu no curso de barbeiro básico e já planeja abrir o próprio espaço.
“Estou aprendendo uma profissão nova e isso está me dando esperança. Quero voltar a trabalhar, ter minha renda e poder ajudar no sustento da minha família. O Cidade Empreendedora chegou para mostrar que nunca é tarde para recomeçar”, contou.

Outros cursos iniciais, como manicure, pedicure e barbeiro, já aconteceram e fazem parte do eixo de inclusão produtiva, um dos pilares do programa, que busca gerar ocupação e renda por meio da qualificação.
Economia da floresta
O alcance do programa vai além da área urbana. Localizadas às margens do igarapé Acurui, a apenas 15 minutos de lancha da sede, as comunidades indígenas Canimaru, Nova Itália e Bom Pastor, todas da etnia Tikuna, também receberão capacitações. Juntas, somam cerca de 4 mil indígenas que vivem principalmente da agricultura, da pesca, do artesanato e da extração de produtos da floresta.
Na comunidade Canimaru, o produtor Fabison Francisco Albino trabalha com mel de abelhas sem ferrão. Ele vê na chegada do programa uma oportunidade de fortalecer a produção e melhorar a comercialização.
“Nós já sabemos produzir o mel, mas muitas vezes vendemos barato por falta de conhecimento sobre embalagens, conservação e acesso a mercados. Com as capacitações, vamos aprender a agregar valor e com a estratégia de vender para fora, mostrando que o que é produzido aqui tem qualidade e história”, afirmou.

União na produção de castanhas
Fundada em 2021, a Associação dos Produtores de Castanha de Amaturá (APROCAM) transformou a realidade de quem vivia da castanha-do-brasil no município. Antes, o produto era vendido por preços irrisórios, entre R$ 5 e R$ 10 a lata, ou trocado por alimentos e utensílios. Com a organização, a valorização foi expressiva e, em 2025, a lata chegou a ser vendida por R$ 195 em função da alta procura.
A associação conta hoje com 91 associados e uma agroindústria própria, atuando especialmente no período da safra. Para o presidente Aurélio Santos Torres, o Cidade Empreendedora chega para reforçar esse avanço.
“É muito bom termos esse programa aqui, com a parceria do Sebrae e da Prefeitura. Nossa expectativa é que as capacitações ajudem os produtores a melhorar ainda mais a qualidade e o preço da castanha. Com mais conhecimento, conseguimos vender melhor e garantir mais renda para as famílias”, disse.

Um programa que transforma
O Cidade Empreendedora é estruturado em eixos estratégicos que atuam desde a gestão pública até o fortalecimento dos pequenos negócios, sempre alinhado aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). O foco é criar um ambiente favorável ao empreendedorismo, gerando desenvolvimento socioeconômico sustentável e de longo prazo.
Para o gestor do Sebrae em Tabatinga, Narciso Coêlho, o diferencial está na construção coletiva.
“O Cidade Empreendedora não é um pacote pronto. Ele é construído junto com a população, respeitando as potencialidades e necessidades de cada lugar. Em Amaturá, vamos trabalhar para que cada ação deixe resultados permanentes, fortalecendo as pessoas e os negócios locais”, afirmou.